O Pecado de Todos Nós - Capítulo Dois - Parte Um

(capítulo um, parte cinco)

Duas vezes durante o mês de janeiro caiu um pouco de chuva, pesada de granizo. Mas o riacho congelou-se sob lâminas de gelo até restar apenas um estreito leito gelado. O rio próximo a Abourville desceu ao nível mais baixo da sua história. Houve queixas de todos os lados porque o nível das águas continuava a baixar e os governos municipais aconselhavam as pessoas a economizarem a água. O Texas estava seco como um osso, mas, como diziam os fazendeiros uns aos outros, o Texas sempre fora seco. Não se chegou a sentir maiores preocupações até que os Estados do centro-oeste declararam estado de emergência. Isso aconteceu em princípios de fevereiro, e ainda não nos sentimos verdadeiramente alarmados. Teríamos uma primavera muito úmida, dizíamos uns aos outros.

Washington não dizia nada. Não se realizava conferência alguma; os jornais não noticiavam nada além de uma seca anormal. A chuvosa Inglaterra gozava de um "tempo incrivelmente seco e ameno" e "o povo se aproveitava disso para passear". Na Itália, o calor parecia o de verão e a Riviera, a despeito das crescentes ameaças de guerra, estava apinhada. Havia histórias engraçadas de robustos escandinavos tomando banho nas praias, embora reclamassem que preferiam esquiar, se ao menos nevasse. A Índia estava sofrendo uma seca, mas desde quando a Índia não sofria uma seca?

As chuvas da primavera e do princípio do verão não haviam chegado à América do Sul: os meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro nunca haviam sido tão secos em toda a História. Não sabíamos então que as grandes companhias frutícolas dos Estados Unidos estavam bastante preocupadas com as colheitas tropicais nas repúblicas do sul. De além a cortina de ferro da Rússia e países satélites não chegava notícia alguma - a princípio.

O Japão congratulava-se porque as chamadas enchentes da primavera não tinham vindo em fevereiro. O Vale do Ohio estava feliz porque o rio não estava enchendo. Cincinnati esqueceu-se de olhar para suas pontes e gozava de um sol extraordinariamente quente. Os homens espalhavam-se em enxames pelas regiões mais baixas do Rio Mississippi e alegravam-se porque naquele ano não teriam de fazer barragens contra as enchentes.

Foi somente muito depois que viemos a saber que todos os oásis dos desertos tinham-se transformado em areais intermináveis, em que as palmeiras desfaziam-se em pó, as áreas verdes mirravam e desapareciam sob um Sol que nunca empalidecia. Mais tarde, também, tivemos notícia de que os mares recuavam e que os rios diminuíam cada vez mais de volume.

Mas tudo isso foi muito depois, conforme devem saber. Por enquanto havia ainda poucos indícios do que estava para vir.

***


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5 comentários:

Anônimo disse...

olá Mário,mais uma parte copiada.Continuo esperando ansiosamente pelas próximas. E agora, deixo de me subscrever como anônima e me apresento pelo meu nome. Prazer, Ana!
Abraço.

Mário Marinato disse...

Prazer, Ana!

Que bom que você está gostando e que está voltando. Pode ter certeza que eu só paro de publicar o livro se alguém me processar ou se eu morrer! :o)

Tá contando pras amigas pra elas acompanharem?

Abraço.

Anônimo disse...

oi Mário, fiquei um tempão sem aparecer, muito trabalho... mas hj vou copiar a outra parte que falta. Acho que ninguém te processa não...
Infelizmente (na verdade felizmente) meu circulo de amizade é muito limitado e não tenho pra quem espalhar essa boa ideia que tiveste de ir mandando o livro devagar, pela web. Mas eu serei uma acompanhante fiel, até o ultimo capitulo!
Abraço
Ana

Mário Marinato disse...

Oi, Ana.

Por acaso, foi você que deixou um recado pra mim no Orkut?

Abraço.

Anônimo disse...

oi, Mário. Sim, deixei um comentário lá sim, dizendo como vc escreve bem. não li teu livro ainda, mas, nas poucas coisas que leio aqui e ali, dá pra ver que vc é um ótimo escritor. sucesso para vc.
abraço
Ana