Eu não conheço o Roberto muito bem, trocamos só uns poucos emails e nunca nos vimos pessoalmente, mas ele é colega do meu primo. E se meu primo diz que é gente boa, então é porque não vale nada. Mas bem, brincadeiras à parte, o Roberto é visitante assíduo do Sarcófago (e gente boa mesmo) e pediu para que eu publicasse um texto dele por aqui. Portanto, com vocês... "Do Começo ao Fim":
O sol já brilhava quando os dois acordaram no mesmo quarto de hotel em que haviam passado a primeira lua-de-mel quinze anos antes.
Essa já era a terceira tentativa de salvar o casamento mas não estava dando certo.
Apesar da vista maravilhosa, o clima ideal para os casais fazerem amor e se curtirem o dia inteiro no aconchego do quarto, ambos tomaram banho e desceram para o restaurante do hotel para tomar o café da manhã.
Quando se conheceram no começo dos anos oitenta, eles eram muito jovens, a vida parecia um sonho e o mundo um desafio a ser conquistado.
Havia uma certa distância no modo de vida dos dois e, visto de fora, aquela relação não tinha nada para dar certo, mas os dois logo se apaixonaram e fizeram juras de amor eterno.
Um era inseguro, o outro achava que tinha toda a segurança do mundo.
Ambos ingênuos.
Tudo era uma maravilha quando estavam só os dois, mas se precisavam se relacionar com o mundo, as diferenças logo apareciam.
Os ciúmes, as brigas, os desentendimentos.
Idas e vindas, sexo gostoso, às vezes animal, o cheiro um do outro fazendo ambos enlouquecerem de tesão, capazes de loucuras para acabar com a urgência do sexo.
Eles foram crescendo e achavam que o que sentiam um pelo outro era amor, mas de certa forma era um tipo de possessividade que não deixava que se separassem de uma vez por todas sem que um procurasse o outro quando se sentisse sozinho.
Os anos se passaram e finalmente, quando todos achavam que seria o fim, se casaram depois de uma temporada longe do mundo conhecido dos dois.
Este foi o período mais quente e apaixonado.
No começo do casamento ainda conservavam o calor do começo de namoro, talvez devido ao período de ¿exílio¿.
O único filho nasceu no começo do segundo ano de casados, o que os uniu mais ainda.
Mas não por muito tempo.
O mundo que os cercava era cruel e eles ainda muito jovens para entendê-lo.
Ambos ingênuos, se deixaram levar pelo resto do mundo.
Mais ciúmes, brigas, desentendimentos.
Ambos não queriam que aquilo terminasse desse jeito e se refugiaram no hotel da primeira lua-de-mel.
Se entenderam, mas uma ferida ficou aberta, ainda por cicatrizar.
O sexo já não era mais tão freqüente e a relação foi esfriando.
O cheiro dos corpos um do outro já não dava mais aquele tesão.
O que ainda os unia era o filho que crescia a cada dia e ficando mais ligado aos dois, mas mesmo assim era difícil viver com uma pessoa que não está lá quando se precisa.
Mas o mundo ainda estava lá e a insegurança e ingenuidade de um e o excesso de segurança e ingenuidade do outro, trouxeram mais ciúmes, brigas, desentendimentos, traições.
O clima pesado.
Já não se dirigiam a palavra para dizer bom dia...
Depois de anos vivendo dessa maneira, fizeram a terceira tentativa de reconciliação.
Mas já não se suportavam mais.
O refúgio do começo dos tempos parecia mais uma extensão de sua casa.
E quando chegaram na noite anterior foram direto para a cama e dormiram de costas um para o outro.
A noite não foi de amor selvagem... Sem ¿bom dia¿ pela manhã...
Definitivamente era o fim.
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