Omar foi um dos meus melhores amigos. Nós nos conhecemos quando estudei com seu filho num curso de inglês, e acabei algum tempo depois me tornando um de seus alunos naquele mesmo curso. Mesmo depois dele ter saído do curso nós mantivemos estreitos nossos laços de amizade. Eu sempre costumava visitá-lo para ouvirmos músicas ou para simplesmente bater papo. Quis o destino que acabássemos trabalhando juntos, quando, através de uma bendita indicação dele próprio, fui ralar ao lado dele no cartório onde estive até março passado.
E ao mesmo passo em que proporcionou alguns dos momentos mais divertidos e memoráveis da minha vida, Omar tem certa responsabilidade sobre um dos meus dias de maior sofrimento, que dificilmente será superado.
Tudo começou no início de 2007, quando ele passou se sentir mal durante o trabalho no cartório e deixou de ir trabalhar durante o dia. Ele ia para lá apenas à noite, quando podia parar e descansar tranqüilamente quando não se sentisse bem. Infelizmente as coisas foram só piorando, até que chegamos àquele fatídico dia.
Assim que o cartório abriu, seu pai, que também trabalhava com a gente, recebeu uma ligação e teve que sair às pressas. Pouco tempo depois ele me ligou chorando desesperado, dizendo que Omar tinha morrido. Até hoje eu procuro o chão sob os meus pés.
Larguei o serviço como estava e consegui uma carona para o hospital. Chegando lá encontrei com o seu pai aos prantos, e descobri algo que tornava aquele dia ainda mais cruel.
- É meu aniversário hoje, Mário, eu não merecia esse presente!
Dali em diante não desgrudei dele. Fiquei ao seu lado durante o tempo em que ficamos no hospital, depois na casa de sua irmã, em seguida em sua casa, então no velório e finalmente durante o enterro. A qualquer momento, eu era sua sombra. Eu não conseguia fazer outra coisa, pois também o tenho como um dos meus grandes amigos.
Apesar de ter plena consciência de que faria tudo de novo se preciso fosse, tenho a mais absoluta certeza de que ficar ao lado dele o tempo todo foi um de meus maiores erros. Isso foi um erro porque eu não pude chorar.
Vejam bem, eu não tinha perdido apenas um colega de trabalho, com quem eu tinha convivido pouco tempo. Eu tinha perdido, como já disse, um grande Amigo, com quem eu já tinha compartilhado bons momentos e de quem eu já tinha aprendido boas lições, e daí que não poder chorar, não poder extravasar, só me fez mal.
Eu vi que tinha que manter firme, sem demonstrar minha tristeza, porque todo meu sofrimento era nada perto da dor daquele pai que tinha acabado de perder seu único filho justamente no dia do seu aniversário. Por isso engoli a seco toda a tristeza que sentia.
Já à noitinha, quando o filho de Omar me deixou em casa, depois do enterro, eu me vi, então, completamente só. A tia com quem moro estava viajando e a casa estava completamente pura, com aquele vazio denso que só os momentos tristes conseguem produzir.
Ligar para minha tia e contar a ela que Omar tinha morrido me causou uma dor física que não imaginei ser possível sentir. A angústia me dava um nó na garganta que me impedia de falar direito e até mesmo chorar. Só mesmo quando Sueli chegou é que consegui extravasar tudo o que tinha contido durante todo aquele dia negro.
Hoje, quando o calendário marca um ano de sua morte, só tenho a pedir a Deus é que Ele tire de meu caminho uma angústia como aquela.
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