O Pecado de Todos Nós - Capítulo Dois - Parte Três

(capítulo dois, parte dois)

A terra ressequida e crestada estendia-se diante de nós e percebi nitidamente que os gramados em volta da casa não tinham grama alguma a não ser pequenos tufos amarelados. Olhei a distância para o trigal cor-de-jade, e misteriosamente senti-me confortado. Meu pai estava agora andando depressa e apressei-me para alcançá-lo. Ele parou junto dos bordos e olhou para eles. Os botões intumesciam e tornavam-se de um rosa pálido e ele tocou-os de leve. Fomos até fundo às faias brancas e ali também os brotos reluziam, gelados. Depois, ainda sem trocar uma só palavra, fomos até os olmos, cujos brotos apertados mostravam um leve traço de verde. Entramos nos pomares e pela primeira vez meu pai me falou.

- Dentro de mais três semanas, estarão em flor.

Então, de repente, ele calou-se. Segurava um nodoso galho de macieira e olhava intensamente para ele. Aproximei-me, pois ele estava rígido e seu rosto, geralmente corado, tomara uma coloração cinzenta. Sem falar, ele estendeu o galho para mim. Nele não havia brotos. Meu pai dirigiu-se à arvore seguinte, e à seguinte, e eu atrás dele, nossas sombras nos acompanhando sobre a terra marrom. Não havia broto algum em nenhuma das macieiras. Quebrei um galhinho, e seu interior estava verde. Eu não sabia que a minha garganta estava tão apertada até tentar falar. Precisei engolir algumas vezes antes de poder dizer:

- Bem, foi um inverno muito seco, mas as árvores estão vivas, e assim...

- E assim... - repetiu meu pai, a sua voz tremia.

Ele continuou a andar, e, de repente, pareceu-me sentir um estranho vazio na luz fria de fevereiro. Talvez devido ao rosto de meu pai, tão despido de expressão exceto pelos olhos, que espelhavam uma amarga severidade, como se só ele soubesse de algo que eu ainda não conhecia.

Ficamos calados de novo, enquanto nos dirigíamos para o pomar das cerejeiras. Examinamos árvore após árvore, sem falar. Fomos ao pomar dos pessegueiros, e ao das pereiras. Não havia um único botão de flor em qualquer das árvores, e quebrei galhinhos, repetidamente, para ver o verde vivo dentro deles.

Ali ficamos nos fitando. Meu pai disse:

- Você sabe que este ano perdemos todas as nossas bezerras e que só alguns dos bezerros machos vingaram.

- Sim - disse eu - E o mesmo aconteceu a todos os nossos vizinhos. E quase não há mais vacas leiteiras em toda a região.

- As nossas galinhas estão pondo poucos ovos, e nenhuma está choca. - Meu pai virou-se para mim e olhou-me demorada e taciturnamente. - Você ainda acha que isso é coisa local? Já foi noticiado por todo o país. “Seca”.

- O que acha o senhor, papai? - perguntei.

Mas ele limitou-se a sacudir a cabeça e olhar para o céu.

***


Continua...
O início

Nenhum comentário: