Certas canções que ouço cabem tão dentro de mim,
Que perguntar carece: como não fui eu que fiz?
Estes versos são de Milton Nascimento. E estes versos falam de si mesmos. Como pode ser que eu mesmo não os escrevi, se eles sempre moraram em mim? Mas a vida é assim mesmo, volta e meia eu encontro alguma letra que me faz pensar nos versos aí de cima.
Há muito tempo tenho uma ligação íntima com música. Elas fazem parte de mim. Como diria meu camarada Júnior, elas são essência da minha vida. E não estou a exagerar. Existem músicas que dizem o que penso, e outras que me ensinam a pensar e viver melhor.
Esta música daqui de baixo é de Cazuza e do Frejat. Quando a escutei pela primeira vez, ou, mais especificamente, quando prestei atenção em sua letra pela primeira vez, vi que ali estava um modelo para minha vida. Vi que naquelas palavras estava o que eu pensava, e o que eu deveria aprender a pensar. Desde então, tento viver minha vida de um modo que jamais eu me torne numa das pessoas citadas pela letra.
Ó, Deus, que ninguém jamais cante um Blues da Piedade para mim. Amém.
Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já crescem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm
Pra quem vê a luz mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro e não muda quando é lua cheia
Pra quem não sabe amar
Fica esperando alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Quero cantar só para as pessoas fracas
Que estão no mundo e perderam a viagem
Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade
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