Os Nordestinos e a Violência

Este mês vai ser difícil alguém conseguir mandar uma frase que chocasse mais o país do que a do ministro extraordinário de Segurança Alimentar, o senhor José Graziano. "Se os retirantes continuarem vindo para cá, vamos ter de continuar andando em carros blindados." A primeira reação de todos, inclusive a minha, foi de revolta quanto à discriminação explícita. Mas passada esta primeira reação, parei para pensar no que ele disse, e cheguei à conclusão de que ele está certo. Só que falou a coisa certa da maneira errada.

O Brasil é um país imenso, com grandes diferenças entre suas regiões. As pessoas que moram em regiões menos favorecidas - incluindo aí o nordeste - tendem a acreditar que é na cidade grande que estão as melhores oportunidades, a chance de mudar de vida. Em decorrência disso, milhares de pessoas abandonam suas famílias para procurar oportunidades em São Paulo, Rio de Janeiro e outros grandes centros - é o tal do êxodo rural.

As cidades grandes já sofrem de super-população, e este contingente que chega a cada dia só faz aumentar. Com as dificuldades atuais do mercado financeiro, as empresas não têm condições de abrir muitas vagas para novos funcionários, e então a balança fica desequilibrada, pendendo para o lado dos desempregados. Perante as dificuldades que têm para viver, algumas pessoas entram no mundo do crime e da violência.

Só que é preciso notar que as pessoas que passam a roubar não são necessariamente aquelas que vieram de outras regiões. Elas não são as raízes da violência, mas parte dos alimentos destas raízes. Não quero dizer que devemos chutar de volta para suas origens as pessoas que vêm tentar a vida nas grandes cidades, como se isso fosse resolver o problema da violência. Digo sim que há de se tentar criar meios para que elas possam viver no lugar onde nasceram.

Portanto, repito, são necessárias ações para que haja uma diminuição no número de pessoas que vêm de regiões pouco desenvolvidas. Enquanto não houver um programa para facilitar e promover o desenvolvimento de todas as regiões, criando condições para que as pessoas possam viver tranquila e dignamente, os problemas continuarão a atormentar a todos: os retirantes, os moradores das grandes cidades e os ministros que não sabem se expressar direito.

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